Psicóloga e Psicanalista • Consultório em Botafogo – RJ

SILÊNCIO DENTRO DA ALMA

Em seu texto intitulado “escutatória”, Rubem Alves aborda com um peculiar bom humor aquilo que, na experiência humana, chamamos de falar e escutar. Ele escreve sobre as insistentes buscas por cursos de oratória e ressalta um profundo desinteresse humano pelos cursos de escutatória – todos querem aprender a falar, mas poucos visam escutar.

Não basta ter ouvidos para ouvir, diz o escritor, “é preciso que haja silêncio dentro da alma” – com este silêncio, a escutatória acontece e, longe dos ruídos do falatório dos pensamentos, começamos a ouvir o que, antes, não ouvíamos. Parece simples, mas escutar o outro e também se escutar é trabalhoso. Na avidez por falar, ouvimos emitindo opiniões, julgamentos e elaborando conselhos que, muitas vezes, estão pautados em vivências pessoais ou perspectivas generalistas. Dessa forma, perdemos muito do singular daquilo que está sendo dirigido aos nossos ouvidos.

Silêncio dentro da alma: para acolher aquilo que o outro nos endereça com sua fala, Rubem Alves nos indicou um caminho que, penso que de certa forma, Freud percorreu na escuta de suas pacientes histéricas, quando se desvinculou de uma abordagem meramente descritiva dos sintomas e enfatizou, nestes, a existência de um sentido. Daí, em um processo de análise, a importância de uma escuta com silêncio dentro da alma – não somente da parte do analista, mas também do próprio sujeito que, ao ouvir em suas palavras algo além do que está sendo dito, se depara com aquilo que, antes, não sabia acerca de si e do mundo.