O insistente ensaio (do viver) – ou da peça que nunca entrou em cartaz; ou da viagem sempre adiada; ou do projeto que só habita o papel;
Tem coisas que só o depois proporciona – é o que diz a obviedade aparente da frase de ineficácia certeira diante do “eu sei, mas mesmo assim” daqueles que (ainda, e novamente) precisam ensaiar um pouco mais.
Subir no palco da vida é ato, é risco – é se horrorizar (e fascinar) com os holofotes.
Subir no palco da vida é fazer risco nas possibilidades infinitas – e circular um (só um) X.
Subir no palco da vida é subverter o tempo – é viajar para o futuro, e encontrar presentes no passado.
Subir no palco da vida sabendo que algumas partes do roteiro da própria história escapam à escrita tem lá sua face assustadora – mas saber que algo de si só será narrável depois, também não tem lá sua beleza?
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“O neurótico, se vocês me permitirem uma expressão que creio calcada sob todos os tipos de coisas que vemos na experiência cotidiana, está sempre ocupado, fazendo suas malas, ou seu exame de consciência (é a mesma coisa) ou a organizar seu labirinto (é a mesma coisa). Ele as junta, suas malas, esquece alguma ou as coloca no guarda-volumes, mas trata-se sempre de malas para uma viagem que ele nunca faz”.
(Lacan, Seminário 6, lição 26)
